segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Filme Babel

 
História interesse, várias história interligas, final aberto. Deixa no ar ou para imaginação para o espectador o que possa vim acontecer. Confusas algumas partes, atores brilhantes principalmente a oriental que faz um papel melancólico.



Conferir Ficha Técnica: http://www.adorocinema.com/filmes/babel/ficha-tecnica-e-premios/

Nota: 4 estrelas

Pseudo-críticas: bom cansativos, história um pouco enjoativa, atuações brilhantes, filmes bom para conhecer, mas não é um filme que pretendo ver tão cedo!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Peça Teatral Aqueles Dois



Peça de Teatro da “Cia. Luna Lunera”, estive em BH para assistir a peça no Teatro Dom Silvério – baseado no conto de Caio Fernando Abreu. É sem duvidas um dos melhores espetáculos que assisti esse ano. Limpo, lindo e ainda com cenas de nudez sutilmente criadas. Nada vulgar. Cenário alternativo, interpretações brilhantes.  

num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra”¹

C.F. o blog da Cia
http://cialunalunera-agenda.blogspot.com/

C.F. Site Oficial do Chevrolet Hall
http://www.chevrolethallbh.com.br/programacao/teatro-dom-silverio-ha-15-anos-em-cartaz-para-voce-apresenta-aqueles-dois/
Pseudo-crítica: Bom a forma que o texto foi trabalhado foi linda, sem dúvida a peça merecia um prêmio de melhor trilha sonora. Pois as escolhas das músicas encaixavam perfeitamente no conto de Caio Fernando Abreu. A Sexualidade e a homossexualidade fora trabalhadas de forma comum, simples e sutil. Sem preconceitos ocultos, ou bizarrices. Recomendo a peça a todos!! Linda!!

Nota: 6 estrelas (em 7 estrelas)


Conto Original: Por favor conferir o site http://www.releituras.com/caioabreu_dois.asp
Aqueles dois
(História de aparente mediocridade e repressão)
Caio Fernando Abreu

Para Rofran Fernandes:
"I announce adhesiveness,
I say it shall be limitless,
unloosen il.
I say you shall yet find the
friend youwere looking for."
(Walt Whitman: So Long!)


A verdade é que não havia mais ninguém em volta. Meses depois, não no começo, um deles diria que a repartição era como "um deserto de almas". O outro concordou sorrindo, orgulhoso, sabendo-se excluído. E longamente, entre cervejas, trocaram então ácidos comentários sobre as mulheres mal-amadas e vorazes, os papos de futebol, amigo secreto, lista de presente, bookmaker, bicho, endereço de cartomante, clips no relógio de ponto, vezenquando salgadinhos no fim do expediente, champanha nacional em copo de plástico. Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe? Mas nenhum se perguntou.

Não chegaram a usar palavras como "especial", "diferente" ou qualquer coisa assim. Apesar de, sem efusões, terem se reconhecido no primeiro segundo do primeiro minuto. Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para tentar entendê-las. Não que fossem muito jovens, incultos demais ou mesmo um pouco burros. Raul tinha um ano mais que trinta; Saul, um menos. Mas as diferenças entre eles não se limitavam a esse tempo, a essas letras. Raul vinha de um casamento fracassado, três anos e nenhum filho. Saul, de um noivado tão interminável que terminara um dia, e um curso frustrado de Arquitetura. Talvez por isso, desenhava. Só rostos, com enormes olhos sem íris nem pupilas. Raul ouvia música e, às vezes, de porre, pegava o violão e cantava, principalmente velhos boleros em espanhol. E cinema, os dois gostavam.

Passaram no mesmo concurso para a mesma firma, mas não se encontraram durante os testes. Foram apresentados no primeiro dia de trabalho de cada um. Disseram prazer, Raul, prazer, Saul, depois como é mesmo o seu nome? sorrindo divertidos da coincidência. Mas discretos, porque eram novos na firma e a gente, afinal, nunca sabe onde está pisando. Tentaram afastar-se quase imediatamente, deliberando limitarem-se a um cotidiano oi, tudo bem ou, no máximo, às sextas, um cordial bom fim de semana, então. Mas desde o princípio alguma coisa — fados, astros, sinas, quem saberá? conspirava contra (ou a favor, por que não?) aqueles dois.

Suas mesas ficavam lado a lado. Nove horas diárias, com intervalo de uma para o almoço. E perdidos no meio daquilo que Raul (ou teria sido Saul?) chamaria, meses depois, exatamente de "um deserto de almas", para não sentirem tanto frio, tanta sede, ou simplesmente por serem humanos, sem querer justificá-los — ou, ao contrário, justificando-os plena e profundamente, enfim: que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.

II

Eram dois moços sozinhos. Raul tinha vindo do norte, Saul tinha vindo do sul. Naquela cidade, todos vinham do norte, do sul, do centro, do leste — e com isso quero dizer que esse detalhe não os tornaria especialmente diferentes. Mas no deserto em volta, todos os outros tinham referenciais, uma mulher, um tio, uma mãe, um amante. Eles não tinham ninguém naquela cidade — de certa forma, também em nenhuma outra —, a não ser a si próprios. Diria também que não tinham nada, mas não seria inteiramente verdadeiro.

Além do violão, Raul tinha um telefone alugado, um toca-discos com rádio e um sabiá na gaiola, chamado Carlos Gardel. Saul, uma televisão colorida com imagem fantasma, cadernos de desenho, vidros de tinta nanquim e um livro com reproduções de Van Gogh. Na parede do quarto de pensão, uma outra reprodução de Van Gogh: aquele quarto com a cadeira de palhinha parecendo torta, a cama estreita, as tábuas do assoalho, colocado na parede em frente à cama. Deitado, Saul tinha às vezes a impressão de que o quadro era um espelho refletindo, quase fotograficamente, o próprio quarto, ausente apenas ele mesmo. Quase sempre, era nessas ocasiões que desenhava.

Eram dois moços bonitos também, todos achavam. As mulheres da repartição, casadas, solteiras, ficaram nervosas quando eles surgiram, tão altos e altivos, comentou, olhos arregalados, uma das secretárias. Ao contrário dos outros homens, alguns até mais jovens, nenhum tinha barriga ou aquela postura desalentada de quem carimba ou datilografa papéis oito horas por dia.

Moreno de barba forte azulando o rosto, Raul era um pouco mais definido, com sua voz de baixo profundo, tão adequada aos boleros amargos que gostava de cantar. Tinham a mesma altura, o mesmo porte, mas Saul parecia um pouco menor, mais frágil, talvez pelos cabelos claros, cheios de caracóis miúdos, olhos assustadiços, azul desmaiado. Eram bonitos juntos, diziam as moças. Um doce de olhar. Sem terem exatamente consciência disso, quando juntos os dois aprumavam ainda mais o porte e, por assim dizer, quase cintilavam, o bonito de dentro de um estimulando o bonito de fora do outro, e vice-versa. Como se houvesse entre aqueles dois, uma estranha e secreta harmonia.

III

Cruzavam-se, silenciosos mas cordiais, junto à garrafa térmica do cafezinho, comentando o tempo ou a chatice do trabalho, depois voltavam às suas mesas. Muito de vez em quando, um pedia um cigarro ao outro, e quase sempre trocavam frases como tanta vontade de parar, mas nunca tentei, ou já tentei tanto, agora desisti. Durou tempo, aquilo. E teria durado muito mais, porque serem assim fechados, quase remotos, era um jeito que traziam de longe. Do norte, do sul.

Até um dia em que Saul chegou atrasado e, respondendo a um vago que que houve, contou que tinha ficado até tarde assistindo a um velho filme na televisão. Por educação, ou cumprindo um ritual, ou apenas para que o outro não se sentisse mal chegando quase às onze, apressado, barba por fazer, Raul deteve os dedos sobre o teclado da máquina e perguntoü: que filme? Infâmia, Saul contou baixo, Audrey Hepburn, Shirley MacLayne, um filme muito antigo, ninguém conhece. Raul olhou-o devagar, e mais atento, como ninguém conhece? eu conheço e gosto muito. Abalado, convidou Saul para um café e, no que restava daquela manhã muito fria de junho, o prédio feio mais que nunca parecendo uma prisão ou uma clínica psiquiátrica, falaram sem parar sobre o filme.

Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tão naturalmente como se de alguma forma fosse inevitável, também vieram histórias pessoais, passados, alguns sonhos, pequenas esperança e sobretudo queixas. Daquela firma, daquela vida, daquele nó, confessaram uma tarde cinza de sexta, apertado no fundo do peito. Durante aquele fim de semana obscuramente desejaram, pela primeira vez, um em sua quitinete, outro na pensão, que o sábado e o domingo caminhassem depressa para dobrar a curva da meia-noite e novamente desaguar na manhã de segunda-feira quando, outra vez, se encontrariam para: um café. Assim foi, e contaram um que tinha bebido além da conta, outro que dormira quase o tempo todo. De muitas coisas falaram aqueles dois nessa manhã, menos da falta que sequer sabiam claramente ter sentido.

Atentas, as moças em volta providenciavam esticadas aos bares depois do expediente, gafieiras, discotecas, festinhas na casa de uma, na casa de outra. A princípio esquivos, acabaram cedendo, mas quase sempre enfiavam-se pelos cantos e sacadas para contar suas histórias intermináveis. Uma noite, Raul pegou o violão e cantou Tú Me Acostumbraste. Nessa mesma festa, Saul bebeu demais e vomitou no banheiro. No caminho até os táxis separados, Raul falou pela primeira vez no casamento desfeito. Passo incerto, Saul contou do noivado antigo. E concordaram, bêbados, que estavam ambos cansados de todas as mulheres do mundo, suas tramas complicadas, suas exigências mesquinhas. Que gostavam de estar assim, agora, sós, donos de suas próprias vidas. Embora, isso não disseram, não soubessem o que fazer com elas.

Dia seguinte, de ressaca, Saul não foi trabalhar nem telefonou. Inquieto, Raul vagou o dia inteiro pelos corredores subitamente desertos, gelados, cantando baixinho Tú Me Acostumbraste, entre inúmeros cafés e meio maço de cigarros a mais que o habitual.

IV

Os fins de semana tornaram-se tão longos que um dia, no meio de um papo qualquer, Raul deu a Saul o número de seu telefone, alguma coisa que você precisar, se ficar doente, a gente nunca sabe. Domingo depois do almoço, Saul telefonou só para saber o que o outro estava fazendo, e visitou-o, e jantaram juntos a comidinha mineira que a empregada deixara pronta sábado. Foi dessa vez que, ácidos e unidos, falaram no tal deserto, nas tais almas. Há quase seis meses se conheciam. Saul deu-se bem com Carlos Gardel, que ensaiou um canto tímido ao cair da noite. Mas quem cantou foi Raul: Perfídia, La Barca e, a pedido de Saul, outra vez, duas vezes, Tú Me Acostumbraste. Saul gostava principalmente daquele pedacinho assim sutil llegaste a mí como una tentación llenando de inquietud mi corazón. Jogaram algumas partidas de buraco e, por volta das nove, Saul se foi.

Na segunda, não trocaram uma palavra sobre o dia anterior. Mas falaram mais que nunca, e muitas vezes foram ao café. As moças em volta espiavam, às vezes cochichando sem que eles percebessem. Nessa semana, pela primeira vez almoçaram juntos na pensão de Saul, que quis subir ao quarto para mostrar os desenhos, visitas proibidas à noite, mas faltavam cinco para as duas e o relógio de ponto era implacável. Saíam e voltavam juntos, desde então, geralmente muito alegres. Pouco tempo depois, com pretexto de assistir a Vagas Estrelas da Ursa na televisão de Saul, Raul entrou escondido na pensão, uma garrafa de conhaque no bolso interno do paletó. Sentados no chão, costas apoiadas na cama estreita, quase não prestaram atenção no filme. Não paravam de falar. Cantarolando Io Che Non Vivo, Raul viu os desenhos, olhando longamente a reprodução de Van Gogh, depois perguntou como Saul conseguia viver naquele quartinho tão pequeno. Parecia sinceramente preocupado. Não é triste? perguntou. Saul sorriu forte: a gente acostuma.

Aos domingos, agora, Saul sempre telefonava. E vinha. Almoçavam ou jantavam, bebiam, fumavam, falavam o tempo todo. Enquanto Raul cantava — vezenquando El Día Que Me Quieras, vezenquando Noche de Ronda —, Saul fazia carinhos lentos na cabecinha de Carlos Gardel, pousado no seu dedo indicador. Às vezes olhavam-se. E sempre sorriam. Uma noite, porque chovia, Saul acabou dormindo no sofá. Dia seguinte, chegaram juntos à repartição, cabelos molhados do chuveiro. As moças não falaram com eles. Os funcionários barrigudos e desalentados trocaram alguns olhares que os dois não saberiam compreender, se percebessem. Mas nada perceberam, nem os olhares nem duas ou três piadas. Quando faltavam dez minutos para as seis, saíram juntos, altos e altivos, para assistir ao último filme de Jane Fonda.

V

Quando começava a primavera, Saul fez aniversário. Porque achava seu amigo muito solitário, ou por outra razão assim, Raul deu a ele a gaiola com Carlos Gardel. No começo do verão, foi a vez de Raul fazer aniversário. E porque estava sem dinheiro, porque seu amigo não tinha nada nas paredes da quitinete, Saul deu a ele a reprodução de Van Gogh. Mas entre esses dois aniversários, aconteceu alguma coisa.

No norte, quando começava dezembro, a mãe de Raul morreu e ele precisou passar uma semana fora. Desorientado, Saul vagava pelos corredores da firma esperando um telefonema que não vinha, tentando em vão concentrar-se nos despachos, processos, protocolos. Á noite, em seu quarto, ligava a televisão gastando tempo em novelas vadias ou desenhando olhos cada vez mais enormes, enquanto acariciava Carlos Gardel. Bebeu bastante, nessa semana. E teve um sonho: caminhava entre as pessoas da repartição, todas de preto, acusadoras. À exceção de Raul, todo de branco, abrindo os braços para ele. Abraçados fortemente, e tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro. Acordou pensando mas ele é que devia estar de luto.

Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe — eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.

Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes — ninguém, mundo, sempre — e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde.

Depois, chegou o Natal, o Ano-Novo que passaram juntos, recusando convites dos colegas de repartição. Raul deu a Saul uma reprodução do Nascimento de Vênus, que ele colocou na parede exatamente onde estivera o quarto de Van Gogh. Saul deu a Raul um disco chamado Os Grandes Sucessos de Dalva de Oliveira. O que mais ouviram foi Nossas Vidas, prestando atenção no pedacinho que dizia até nossos beijos parecem beijos de quem nunca amou.

Foi na noite de trinta e um, aberta a champanhe na quitinete de Raul, que Saul ergueu a taça e brindou à nossa amizade que nunca nunca vai terminar. Beberam até quase cair. Na hora de deitar, trocando a roupa no banheiro, muito bêbado, Saul falou que ia dormir nu. Raul olhou para ele e disse você tem um corpo bonito. Você também, disse Saul, e baixou os olhos. Deitaram ambos nus, um na cama atrás do guarda-roupa, outro no sofá. Quase a noite inteira, um conseguia ver a brasa acesa do cigarro do outro, furando o escuro feito um demônio de olhos incendiados. Pela manhã, Saul foi embora sem se despedir para que Raul não percebesse suas fundas olheiras.

Quando janeiro começou, quase na época de tirarem férias — e tinham planejado, juntos, quem sabe Parati, Ouro Preto, Porto Seguro — ficaram surpresos naquela manhã em que o chefe de seção os chamou, perto do meio-dia. Fazia muito calor. Suarento, o chefe foi direto ao assunto. Tinha recebido algumas cartas anônimas. Recusou-se a mostrá-las. Pálidos, ouviram expressões como "relação anormal e ostensiva", "desavergonhada aberração", "comportamento doentio", "psicologia deformada", sempre assinadas por Um Atento Guardião da Moral. Saul baixou os olhos desmaiados, mas Raul colocou-se em pé. Parecia muito alto quando, com uma das mãos apoiadas no ombro do amigo e a outra erguendo-se atrevida no ar, conseguiu ainda dizer a palavra nunca, antes que o chefe, entre coisas como a-reputação-de-nossa-firma, declarasse frio: os senhores estão despedidos.

Esvaziaram lentamente cada um a sua gaveta, a sala deserta na hora do almoço, sem se olharem nos olhos. O sol de verão escaldava o tampo de metal das mesas. Raul guardou no grande envelope pardo um par de olhos enormes, sem íris nem pupilas, presente de Saul, que guardou no seu grande envelope pardo, com algumas manchas de café, a letra de Tú Me Acostumbraste, escrita à mão por Raul numa tarde qualquer de agosto. Desceram juntos pelo elevador, em silêncio.

Mas quando saíram pela porta daquele prédio grande e antigo, parecido com uma clínica ou uma penitenciária, vistos de cima pelos colegas todos postos na janela, a camisa branca de um, a azul do outro, estavam ainda mais altos e mais altivos. Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois apanharam o mesmo táxi, Raul abrindo a porta para que Saul entrasse. Ai-ai, alguém gritou da janela. Mas eles não ouviram. O táxi já tinha dobrado a esquina.

Pelas tardes poeirentas daquele resto de janeiro, quando o sol parecia a gema de um enorme ovo frito no azul sem nuvens no céu, ninguém mais conseguiu trabalhar em paz na repartição. Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam infelizes para sempre. E foram.

Caio Fernando
Loureiro de Abreu nasceu no dia 12 de setembro de 1948, em Santiago (RS). Jovem ainda mudou-se para Porto Alegre onde publicou seus primeiros contos. Cursou Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois Artes Dramáticas, mas abandonou ambos para dedicar-se ao trabalho jornalístico no Centro e Sul do país, em revistas como Pop, Nova, Veja e Manchete, foi editor de Leia Livros e colaborou nos jornais Correio do Povo, Zero Hora, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo. No ano de 1968 — em plena ditadura militar — foi perseguido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), tendo se refugiado no sítio da escritora e amiga Hilda Hilst, na periferia de Campinas (SP). Considerado um dos principais contistas do Brasil, sua ficção se desenvolveu acima dos convencionalismos de qualquer ordem, evidenciando uma temática própria, juntamente com uma linguagem fora dos padrões normais. Em 1973, querendo deixar tudo para trás, viajou para a Europa. Primeiro andou pela Espanha, transferiu-se para Estocolmo, depois Amsterdã, Londres — onde escreveu Ovelhas Negras — e Paris. Retornou a Porto Alegre em fins de 1974, sem parecer caber mais na rotina do Brasil dos militares: tinha os cabelos pintados de vermelho, usava brincos imensos nas duas orelhas e se vestia com batas de veludo cobertas de pequenos espelhos. Assim andava calmamente pela Rua da Praia, centro nervoso da capital gaúcha. Em 1983 transferiu-se para o Rio de Janeiro e em 1985 passou a residir novamente em São Paulo.

Volta à França em 1994, a convite da Casa dos Escritores Estrangeiros. Lá escreveu
Bien Loin de Marienbad. Ao saber-se portador do vírus da AIDS, em setembro de 1994, Caio Fernando Abreu retorna a Porto Alegre, onde volta a viver com seus pais. Põe-se a cuidar de roseiras, encontrando um sentido mais delicado para a vida. Foi internado no Hospital Menino Deus, onde faleceu no dia 25 de fevereiro de 1996.

__________________________________
¹ C.F. Conto Aqueles Dois – Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Amei, curti e enjoei


para Thaís Rosa inspiração de grandes sentimentos

            ... ele então chegou em casa, entrou sem pensar e foi direto para a cozinha procurou entre os copos a xícara com a atriz famosa dos 60, uma atriz clássica do cinema, e nem se quer lembrou dela, buscou na geladeira a caixa de leite desnatado, o único que ele bebia, e procurou pela garrafa de café na cozinha e não achou, então foi para a copa, onde encontrou a garrafa, sentou com a xícara de leite, colocou café e bebeu como se fosse algo revolucionário, o tão amado café-com-leite era para ele algo quase que supremo, sublimo orgasmo simplório.
            Se perdeu em seus pensamentos e disse a si mesmo “a velhice me proporcionou sensibilidade... e com o tempo essa só aumenta”. A Frase saiu como ritmo de oração, um apelo a tal deus que nem ele mesmo acreditava... e nem se sabe qual era esse, o que o mesmo fazia.
            Lembrou-se de um amor vivido, ou vivenciado – ou algo que nunca tenha passado de monólogos de paixões, ontem do tal cara que morria por ele, hoje por ele morrer pelo mesmo. A vida sempre pareceu um espiral – pode um aspirou voltar numa parte de si mesmo? O gosto do café-com-leite ainda na boca, tem pessoas que preferem cocaína mas ele não, ele gosto do simples, sua droga sempre foi o café-com-leite. Não importa se é amargo, ou um pouco doce – não sendo excessivamente doce, é válido!
            Em meio a músicas... a choros que não se completaram, a risos que aconteceram, violinos... onde... “isso é o que você pensa...” – pensamentos eufóricos. Quem quer enlouquecer? – um vez li uma frase de Virginia Woolf que dizia assim: “Sou uma dessas pessoas que acham tudo horroroso.” E entendi que eu poderia ser único, mas que muitos dos meus pensamentos era divido com outras pessoas, tais também era certos sentimentos, eu não poderia julgar ninguém, mas me julga! E os outros todos também!  Onde foi que eu me enjoei de amar? E porque não deveria enjoar? O amor não deve ser um padrão de linearidade ou de intensidade instável. Deve? Que nunca quis dizer “flores para los muertos” a um amor, que mesmo ainda vivo parecia morto? Quem nunca disse que iria terminar e não terminou – Por descobrir que o amor era mesmo meu amado... 


Para todos nós (leve a pena conferir a tradução)


sábado, 20 de novembro de 2010

Novembro - estação de caos



Caminhado por ruas estreitas, escorrendo na lama de nossos erros, e você apena na sua imaginação, nada além disso, te preocupa, te alerta, e eu sempre pensando em nós. Eu na minha correria de pensar em cenas, ensaios, compras de figurinos, qual maquiagem para tal cena, e livros por acabar de ler para tal matéria, e você? No seu “fantástico mundo de Boby, nada Além de imaginário – nada além de seu mundo imaginário. Sempre se esquecendo do que eu preciso sempre se esquecendo do que eu penso sempre se esquecendo de mim. eu não sou imortal, e nem meus dias serão, vai esperar perder para fazer algo? Vai esperar eu querer outros horizontes? Não espere a música acabar para me chamar para dançar.
Passos lentos, novembro não acaba mais, e eu tentando dormir o tempo todo! Tentando esquecer-se do tempo, me afogar para as horas passarem rápido, os dias estão passando rápido, mas o mês não. Dezembro ainda vai ser só pela metade! É sempre parte, é sempre pouco, é quase nada, o impossível, algo imperecível, inesquecível – ora! Não peça para ter calma, não peça paciência, a ansiedade é maior. E você? Continua no seu mundo imaginário.



quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Primeiro Enjoou

 Pelo bosque da solidão,
escorrendo de suas mãos.
Deixando de ser sua posse,
perdendo a passagem.
Começando pelos erros do passado, vamos nos separando dia a pós dia apenas para falar de cenas de desespero e erros do passado,
doces palavras não vão me conquistar, e nem isso você sabe fingir, mão no meu corpo não vai intensificar, nem sons de pianos vai me amparar. Se ligo atende, se não, esquece de mim... Espinhos nos laços matrimoniais. Amor, letras de músicas
não vão me conquistar, não vão me iludir. Não sei se ainda parei de caçar, mas sei que amei, sei que amo. Mas é que dá um certo enjoou essa coisa chamada “nós”.
A violência e o sublime juntos,
como sombra atrás de mim.
estou vivendo meu “Entre quatro paredes” – oh Sartre dê-me sua sabedoria.



domingo, 31 de outubro de 2010

Por Existir



 Acordei em meio a turbilhão de vozes, tempestades e pranto. Ouvindo sem cessar a voz de menina que cantava horrivelmente desafinada, mas sua musica falava do meu passado... De coisas nossas. De repente percebo que estou me perdendo no caminho, que estou perdendo parte de ti... E esquecendo-se do que é o principal, simplesmente amar! Não tem que têm justificativas, ou passar o tempo todo juntos! O amor nasce da gente, e felicidade vem de mim, demorei a entender isso!  O “Nós” completa essa felicidade, mas não é complemento para o meu existir! Não existem formas, formulas ou pontes certas! Existe eu e você, nós! Se quiseres partir siga tua estrada, meu bem. Vai doer, vou chorar, mas eu sei que amanha vai existir. Eu sei que existirão livros e filmes, músicas, bandas e CDs para afogar minhas lagrimas. Vão existir amigos, um existir lindo e ingênuo, e tenho que ser grato a cada um deles, por existirem! Eu os amos! Suas palavras frias, o escuro da relação... O passado trás coisas nossas que deveriam ter naufragado numa tempestade! Esquecemos das coisas amenas, e iluminadas que existiu cada minuto em que passamos juntos! Eu mudei muito, e cada vez mais carrego menos coisas, não quero me apegar a pessoas, a locais, livros e filmes. A estante continua aqui, mas eu sei partir com uma simples mochila. Vou carregar nos laços de minha alma coisa simples e muito importante para mim. Sei que quando sair ninfas e duendes estarão cantando para mim “Wish You Were Here - Pink Floyd” a música mais linda... Sei que passarei por vias escuras e escorregadias, também sei que sempre arranharei os braços, pernas e rosto nos arames farpados dos pesadelos e das verdades inconvenientes. Na bagagem da minha vida está o pé de amora, que vive minha infância, encontros e descartadas, o chá de hortelã, o corpo de meninas que eu espiava por detrás de janelas... Estará cenas escondidas que presenciei de sexo. Eu era um menino descobridor, tinha que saber tudo sobre o mundo e descobrir o por quê. Investiguei todos os dias, vizinhos, primos, e família sempre achei que eles pecavam e eu tinha o dever de saber e não contar quais eram. Meus primos que hoje são seres que as vezes nem reconheço mais... pelos caminhos da vida, a maturidade, o céu, a Terra, demônios, anjos, apóstolos e credo destruíram aqueles sonhos que existiam no olhar de cada um, quando era pequininhos. Talvez eu ainda esteja sonhando, ou buscando os resquício dos mesmos. Disseram que não devia sonhar, não devia amar e muito menos pensar! Disseram tudo o que eu deveria fazer, sem me questionar o que eu queria fazer. Eu vivo de sonhos, é trabalhoso e difícil de viver dos mesmos. Acordo todos os dias com uma certeza de viver cada um deles. Vem comigo, ou fiquei gravado eternamente nessa figura luminosa chamada alma. 

Trair é hábito




Imagem do Blog Judite Insone: www.juditeinsone.blogspot.com (Atriz Liv Ullmann)


Não que exista a necessidade. O corpo humano e a mente humana precisa do sexo, do amor, de atenção de afeto. Seria muito fácil trair, seria muito fácil se vender o desejo carnal. Talvez exista um segredo. Talvez o mesmo seja não ceder a primeira vez. Trair é por natureza um habito. Quem não se vende ele não o faz. Trair é fácil. Eu gosto das coisas difíceis – ser fiel é um desafio, prefiro o ultimo.  Mas acredite não é por alguém, além de mim mesmo. 

Ser fiel por mim, e não por alguém, ou pelo que sinto por uma outra pessoa! 

" Para todos nós"  




terça-feira, 5 de outubro de 2010

Horas


A cada minuto eu me apaixono mais, eu deveria esquecer,
Deveria sair correndo, não entregar, não amar...
Mas é impossível não parar de querer te ver, de querer sair correndo até a você
As hora passa eu cada minuto parece uma justificativa para te amar!
Enquanto as horas existirem para mim, eu sei que estarei pensando em ti! 



domingo, 26 de setembro de 2010

Desistir ou Reagir





Eu nunca tive medo de dormir, hoje eu tenho. Medo do que posso sonhar, sonhar contigo seria trágico e suicida, esse amor que bate fundo aqui não quer sair, estou destruindo a mim mesmo por ti! Quando é que você vai entender que o que eu quero é você por inteiro e não por segundo. É acho que vai ser melhor esquecer o que existiu, esquecer o que eu sinto, mas o telefone ainda toca... porque não atender, por mim! cara! Por mim! o circulo está fechando, e o circo já si foi, o animal aqui está apenas esperando por si mesmo para ver se foge feito bailarina com o circo, ou se fica com o amor da sua vida, se o mesmo não tiver se matado até o por do sol apenas nos olhos dela, sem rosa, sem espinhos, sem cruz ou religião, amor é hora de partir... escolha carro ou caminhão. É importante também que eu esteja feliz, mesmo querendo te fazer feliz, cansei de lego, cansei de “meios termos” com a intensidade é lei, e é o fruto do que eu crio, o que eu acho? Não acho nada! Só sei que eu te amo, e sei que uma hora o sonho acaba, estou esperando ele terminar. 


Talvez você devesse traduzir a letra e me entender um pouco:


Ps: eu não quero ser ninguém do Queen, e nem quero ser travesti. Por mais que o clip induz a isso kkkk